domingo, 17 de agosto de 2008

Uma loucura divertida

Eu gosto muito de relembrar alguns momentos da minha vida que a primeira vista parecem trágicos, mas, que no fim das contas acabam tornando-se divertidos e trazendo a sua parcela de aprendizado. Assim, vou contar um hoje, que cada vez que me recordo acabo dando boas risadas.
Em 2003 Roger Waters faria algumas apresentações no Brasil e entre elas uma em Porto Alegre. Na época eu tinha uma grande turma na internet por conta de um fórum que moderava e a idéia de ir ao show nasceu dali, através de um amigo que morava em Porto Alegre e convidou-me para acompanhá-lo no show.
Um outro amigo de lá, que eu conheci aqui na cidade, colocou sua mãe a minha disposição e eu acabei indo com a cara e a coragem, sozinha à Porto Alegre.
Ao chegar na Rodoviária, a mãe do amigo me aguardava e assim nos encaminhamos a casa dela. Eu matutona de interior, fiquei pasma com o tamanho da cidade, com o movimento, cheia de bolsas, tendo que pegar ônibus e já alertada para o cuidado de não ser assaltada. Ao chegar na casa da senhora, fiquei apavorada com a distância que eu teria que me deslocar para ir ao show e mesmo para voltar. Teria que pegar 2 ônibus e ainda caminhar ladeira acima um bom trecho no meio da madrugada e sozinha. Diante desta dificuldade, acabei ligando a um casal amigos da família que moravam quase no centro de Porto Alegre e para lá me dirigi, sabendo que as coisas ficariam mais fáceis.
O amigo me levou ao estádio do Grêmio e eu lá fiquei, sozinha, apavorada com a multidão de gente e já sabendo que dificilmente eu encontraria meu amigo no show. Sem celular naquela época, fui algumas vezes antes do show ao telefone público e nada do meu amigo atender. O seu celular estava definitivamente desligado. Ali já saquei a tremenda enrolada em que havia me metido. Pensei, agora nada mais posso fazer, se estou aqui vou curtir e assim, entrei num dos portões do estádio. Sorte que havia comprado para assistir das cadeiras, pois estar no gramado sozinha numa situação daquela seria complicado.
Ainda por um tempo nutri a esperança de que o amigo apareceria, afinal, ele também havia comprado para cadeiras e me passando o número da cadeira, fiquei ligada para ver se o fulano apareceria,mas, nem sinal do fulano...
Show quase começando, eu pentelhei todos que estavam por perto para me emprestarem o celular, dizendo ter me perdido de uns amigos e que precisava localizá-los, mas, nada adiantava, o tal celular continuava desligado. Depois de insistir um tempo e todos em volta já saberem da minha situação, acomodei-me, uma vez que todos foram prestativos, fizeram com que eu relaxasse e me preparasse para curtir o show. Afinal não estava mais sozinha e até uma senhora, dona de um dos bares da área, já estava me amparando também.
Pensei: Mara, agora já era mesmo, você está aqui, então relaxa e goza. Ao meu lado um turma de rapazes já fazia a maior bagunça comigo, já pediam meu isqueiro para acender “um”, ofereceram-me também, mas eu recusei. Desta eu já estava fora fazia tempo. Não preciso nem dizer que a marofa dos caras vinha na minha cara e no começo fiquei um pouco preocupada, depois relaxei.
Um solado de guitarra e a diminuição das luzes já anunciavam o show prestes a começar. Um vídeo de Clapton no telão agita a galera e o rapaz do meu lado diz: cara, esse cara toca muito, vai ser tudo de bom este show. Eu então, não podendo deixar passar, falei: este é Eric Clapton, o show que vamos ver é de Roger Wathers do Pink Floyd. E o tal vira e diz: ahhhhh é? Mas, de todo jeito vai ser bom!!! Começou a pular feito um macaco em cima de sua cadeira e gritava: VAI SER BAUUUUUUUMMMMMMM!
Confesso que neste momento me senti perdida no meio de loucos, mas eu estava ali para o que der e viesse.... A estas alturas o rapaz que vendia cerveja nem pegava mais o meu dinheiro e dizia:Tia, toma aí que depois eu te cobro. Assim eu já estava me sentindo em casa.
Apagam as luzes e o show começa com The Dark Side Of The Moon. Estaria eu no lado negro da lua? A noite em Porto Alegre era quente, havia feito 40 graus naquele dia, mas como um presente, uma brisa deliciosa veio nos envolver e eu me senti gigante do alto daquele estádio. De hora para a outra o som de um helicóptero envolveu o estádio, era Another Brick in The Wall chegando e a galera delirou. Um coro de milhares de pessoas, cantavam juntos e eu me arrepio até agora aqui escrevendo da sensação que eu tive naquele momento. A galera endoidou. Resolvi neste momento tentar encontrar meu amigo, dei umas voltas, mas, não achei. Eu olhava para os lados e via trocentos personagens de Easy Rider, vestidos a caráter, todos já com mais de 40 anos, com os olhos vidrados e enebriados pelo som e o momento. Então, eu não agüentei, como Paulo Coelho sentou as margens do Rio Pietra e chorou, eu sentei no corredor do estádio e chorei. Chorei compiosamente... chorei pelo desencontro, chorei pelo momento, chorei da tensão do dia, chorei por estar ali, chorei de emoção. Um filme passou na minha mente. Toda a minha vida, tudo que fazia parte dela, as pessoas, a família, os filhos, os amigos, as conquistas, as derrotas... tudo. Foi uma sessão descarrego. Então eu ouvi Time, Money, Wish You Were Here e muitas outras.
Me dei conta de que eu estava realizando um sonho que eu sempre tive, de ver o Pink Floyd antes de morrer. Não era exatamente o Pink Floyd, mas sim o verdadeiro mentor da Banda, Roger Waters, sem Gilmore , mas para mim já bastava.
Saí do estádio sem saber para que lado iria, plantei-me na saída do portão para ver se via meu amigo, mas, nem sinal dele. Acabei conversando com algumas pessoas que auxiliaram e me deram carona para voltar para onde em queria que era uma choperia onde o amigo disse que estaria caso nos desencontrássemos depois do show. Nem preciso mais dizer que ele lá não estava também. Às 3 da manhã eu peguei um táxi no centro de Porto Alegre e voltei para a casa dos amigos, onde eu estava. Dormi realizada pelo show, mas puteada pelos desencontros. É claro que nem no outro dia o telefone do amigo atendia. Acabei envolvendo-me com os amigos onde eu estava e resolvi ficar mais dois dias, conhecendo lugares maravilhosos da cidade e divertindo-me muito.Que se danasse o amigo que me deu a "bicicleta". Isso não se faz com ninguém! Só quando voltei para casa me dei conta da loucura que fiz. De ir para uma cidade grande, sem saber nada, ir a um show daquele tamanho, andar pelas ruas de Porto Alegre no meio da madrugada e voltar ilesa para casa. Mas, mesmo assim eu estava realizada por que a ocasião provou-me, que quando se quer uma coisa, se pode, basta fazer.
Ainda hoje quando vejo alguns clipes ou ouço a música do Floyd, me emociono. Revivo o momento, que por um tempo foi um misto de alegria com tristeza, mas, hoje ele é puro aprendizado que eu tive e quando lembro de algumas passagens, dou boas gargalhadas. Umas pela minha loucura e outras pela minha ingenuidade.

Deixo então aqui, uma das músicas deles que eu amo. Difícil também é ter algo deles que eu não goste.

Um comentário:

Cláudia Regina disse...

É né maroca...lembro dessa história. Mas a verdade é que ninguém viu Roger Walters como vc!! Ninguém com certeza sentiu aquele show como vc! E ninguém tem uma história como essa igual a vc!!Bjooooooooo